30 de mai. de 2007

De Vento em Popa.

Matéria publicada na Revista L'UOMO Maio/Junho-2007.

O poeta português Fernando Pessoa já dizia: “Navegar é preciso”. Estrada ruim, falta de segurança em cidades turísticas, despesas hoteleiras, trânsito e outros inconvenientes estão estimulando os brasileiros a migrar para um mercado que vai de vento em popa, o segmento náutico. Se o seu sonho é ter um barco ladeando o seu carro na garagem, acredite, a hora é agora.
Por Bianca Moretto e Viviane Lopes.

O mercado náutico brasileiro é dividido em dois, o de veleiros e o de lanchas a motor. O mercado de lanchas movimenta algo em torno de 90% do total, um dos motivos segundo o diretor de marketing da Regatta, Cacau Peters, seria porque “o veleiro exige mais conhecimento técnico para manejar”. Que o diga o chef francês e empresário bem-sucedido Olivier Anquier. Ele que atualmente apresenta um quadro de culinária no programa Domingo Espetacular da Tv Record, confessou à LUOMO a sua paixão por barcos e a dificuldade para encontrar marinas bem estruturadas no país: "Comecei a velejar na Europa com seis anos de idade, sou um apaixonado por esta atividade. Mas para quem está começando vale lembrar que os recursos para a prática do esporte no país ainda são bastante limitados". De qualquer forma, esse mercado como um todo cresce em média 15% ao ano e desperta um interesse cada vez maior. De acordo com Cacau, o mercado poderia inclusive crescer mais do que tem crescido não fosse o câmbio. Porque se por um lado o câmbio barateia o custo dos barcos, já que os motores são importados e correspondem a 50% do valor dos menores, por outro dificulta a exportação dos estaleiros.
No entanto, este não é motivo para impedir os estaleiros de crescerem e se aperfeiçoarem. Nos últimos anos a qualidade da produção brasileira dos estaleiros aumentou muito em qualidade e quantidade, tudo isso sem o menor incentivo governamental ou de qualquer outra espécie. Pelo contrário, o diretor de marketing disse que no mercado costuma-se dizer que o “Brasil está de costas para o mar”, já que ainda não percebeu o potencial de crescimento que um país com mais de 8 mil quilômetros de litoral possui nesse setor.

DIAS CONTADOS
Este desprezo parece estar com os dias contados. A possibilidade de financiamento bancário com até três anos para pagar (a Aymoré Financiamentos, do grupo ABN-Amro, por exemplo, cobra taxas de 2,3% ao mês para barcos e 2,6% para motores e equipamentos) faz com que novos adeptos invistam no setor.
Porém, quando marinheiros de primeira viagem decidem se aventurar, uma boa alternativa é investir em barcos seminovos para evitar prejuízos. A economia na compra de uma embarcação usada em relação à nova pode ser de até 35%. Um barco de 24 pés, por exemplo, que custaria R$ 85 mil, pode ser encontrado por R$ 25 mil a menos se tiver dois anos de uso. Quem ainda não é um expert no assunto pode e deve recorrer a um mecânico de confiança que irá perceber possíveis problemas não aparentes. Mas se o seu desejo é ter o próprio brinquedo guardado na garagem, aproveite! Nunca foi tão fácil ter um barco.
Na hora de escolher são inúmeros os modelos e a partir de R$ 15.000,00, o sonho de ter uma lancha pode ser realizado. Nesse caso seria um barco pequeno de 25Hp, 4 metros, com impostos inclusos e apenas uma pequena taxa a ser paga no registro da Marinha. Esse barco inclusive não necessita nem de garagem náutica, pois pode ser levado para outro lugar numa carreta. No caso de barcos maiores que necessitem ficar numa garagem, o proprietário vai gastar em média R$ 200,00 por mês. Para quem quer passear com a família sem gastar muito na compra o Flash 165 pose ser a solução. O modelo pronto para navegar custa menos de R$ 17 mil e leva até quatro pessoas. Mas se você prefere levar os amigos para esquiar em lagos, represas ou enseadas dê uma olhada na Ventura 195 que custa cerca de R$ 48 mil e pode ser rebocada por uma picape média. Para ter conforto em alto mar a Citamarra 270 é uma boa alternativa. O investimento neste caso pode chegar a R$ 120 mil dependendo do motor. De acordo com a revista Náutica, em que você pode inclusive anunciar o seu barco gratuitamente, o preço de um veleiro RO 330 gira em torno dos R$ 250 mil e é "um bom investimento para quem busca um veleiro de porte médio para cruzeiros costeiros". Grandes estaleiros como Intermarine, Real Class e Spirit Ferretti também oferecem variedade de modelos.
Já Olivier não se contentou em comprar um barco comum de fibra de vidro: "Fiz o barco do meu jeito e dentro das minhas condições financeiras. Encontrei um casco de madeira na marina Marimbas no Rio de Janeiro por R$ 500,00. Depois foram necessários quase dose meses de trabalho em São Paulo no estaleiro do Ricardo Lopes para desenvolver o interior da lancha. Acompanhei cada passo", diz ele. Neste caso o chef nos explica que o mais caro foi o motor 2 tempos que custou R$ 22.000. No total, incluindo peças e a transformação interior, o barco exclusivo de 16 pés saiu por R$ 38.500. Para pilotar o seu "Saramayá" Olivier precisou ter uma habilitação autorizada pela Marinha. Para cada área do oceano, há uma classificação diferente, tanto para vela quanto para motor. A inscrição é feita na Capitania dos Portos ou através de fax, mediante o pagamento da taxa de R$ 40. Vale lembrar que conduzir uma embarcação ou contratar um tripulante sem habilitação é uma infração e o condutor pode ser multado com valores de variam de R$ 40 a R$ 3.200. Empresas especializadas no mercado náutico oferecem esse tipo de curso.

ALUGUEL
Quem não sabe pilotar pode alugar uma embarcação e contemplar as belezas do litoral brasileiro. Na Bahia, por exemplo, as embarcações mais alugadas são as escunas e lanchas e variam de preço de acordo o número de pessoas. Uma opção para quem quer apreciar os confortos de um barco de alto luxo, sem precisar investir na compra, é passar férias num deles. A Regatta oferece o serviço de Yacht Charter há quase um ano. Essa nova modalidade de férias pode ser corporativa ou particular, e diferente de um passeio turístico de uma noite ou um fim de semana, o Charter é o aluguel de uma casa de férias.
Essa viagem dos sonhos é totalmente personalizada. O cliente reserva o escolhe o destino que pode ser o convidativo sol do Caribe ou as paradisíacas ilhas do Pacífico Sul. Pode inclusive escolher um lugar mais próximo, mas nem por isso menos exuberante, como Ilha Grande, Paraty ou ainda Punta Del Este. Depois de traçar o roteiro, escolhe o que vai comer e beber todos os dias, podendo incluir no cardápio o vinho preferido por exemplo. O passeio conta com tripulação profissional como chef, hostess, capitão, etc. Dentre os confortos que o iate ou veleiro, conforme o espírito da turma, poderá desfrutar, estão banheiras jacuzzi, ambientes agradáveis e luxuosos, brinquedos aquáticos diversos como jet-ski, caiaque, equipamento de mergulho e outros. Uma viagem de uma semana para o Caribe, pode custar algo em torno de US$ 3.500 num grupo de oito pessoas. Os destinos mais procurados pelos brasileiros são Europa, Caribe, Alaska e Pacífico Sul. Mas também existem pacotes os festivais de Cannes ou eventos em Mônaco, onde o viajante não terá o desconforto de desfazer as malas quando viajar de uma ilha para outra.

NEGÓCIOS EM ALTO MAR
Outra possibilidade é o Office Boat. Empresários brasileiros descobriram que fechar negócios em alto mar pode ser vantajoso. Com sistema SSB, rádios de ondas curtas que permite e-mails de longo alcance e telefone por satélite o sistema de comunicação está garantido. Segundo publicado na edição de março deste ano da revista Joyce Pascowitch “reza a lenda que Naji Nahas conheceu Marco Tronchetti Provera, o chefão da Telecom Itália, no Mediterrâneo. O barco em que Naji estava encostou ao lado do de Tronchetti Provera. Naji foi convidado para um jantar no iate vizinho e saiu de lá como representante do empresário italiano no Brasil para intermediar o litígio com Daniel Dantas”. O mar parece ter se transformado em uma ambiente propício para criar bons relacionamentos.

RIO BOAT SHOW
Segundo a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barco), a frota brasileira é hoje estimada em 53 mil barcos. Para se ter uma idéia, no Rio Boat Show deste ano, 120 expositores se espalharam por 40 mil m2 apresentando lançamentos nacionais e internacionais de lanchas, veleiros, motores e acessórios náuticos. O destaque da feira foi o lançamento do projeto do Estaleiro Riostar, do melhor designer do setor, o brasileiro Fernando Almeida. O barco RS74 Open mescla o conforto de um motor yacht com o desempenho de um open boat.
Cerca de 53 mil visitantes passaram por lá gerando negócios da ordem de US$ 45 milhões. Indiretamente veículos de comunicação também são beneficiados com tal demanda. A revista Náutica, por exemplo, cresceu cerca de 36% no último ano, segundo nos informou a gerente de circulação Heloísa Siqueira. No cinema não é diferente, prova disso é o documentário lançado no dia 27 de abril deste ano - O Mundo em Duas Voltas, que mostra a saga da família Schurmann retratada em película por um dos filhos do casal. Se você ainda não está pronto para uma volta ao mundo, mas quer se entrosar melhor com o segmento náutico, saiba que uma competição promete agitar as águas da represa de Guarapiranga em São Paulo. O empresário Lebos Ribeiro Chaguri em parceria com a Fepen (Federação Paulista de Esportes Náuticos) estão organizando uma competição que tem como ponto de partida o Clube de Campo Castelo. Entre as modalidades destaque para Fórmula Indi, Craicker e prova de arrancada de jet ski.
Para mais informações envie um e-mail para acemusicrecords@hotmail.com.

A Morte Anunciada do Criador.

Matéria publicada na Revista L'UOMO de Maio/Junho-2007.

Estamos nos aproximando do segundo semestre e até o final de 2007 alguns pensadores acreditam que algo inédito e totalmente sem precedentes na história acontecerá: Deus se tornará obsoleto. Toda essa confiança não é em vão, tem um motivo real chamado Large Hadron Collider (Grande Colisor de Hádrons) ou simplesmente acelerador de partículas. O objetivo desta máquina é reproduzir o momento do Big Bang e, dessa forma, desvendar a origem da matéria. Será que depois que a ciência explicar exatamente como surgiu o universo, Deus e a religiosidade ficarão totalmente desnecessários?
Por Bianca Moretto e Viviane Lopes.

A ciência está muito perto de explicar pela primeira vez como surgiu o universo. Essa resposta vem de encontro a antigas questões do ser humano como: De onde viemos? Como tudo começou? ou O que existia antes de nós?. Questões para as quais as religiões sempre tiveram uma explicação não científica. Por outro lado a ciência sempre trabalhou para obter explicações lógicas e agora está mais perto do que nunca de desvendar esses mistérios.
O LHC não é o primeiro acelerador de partículas construído no mundo, mas sem dúvida é o mais potente. Para se ter uma idéia da sua capacidade ele tem energias 20 vezes maiores do que o seu competidor mais próximo, o Tevatron do Fermi National Accelerator Laboratory, que fica perto de Chicago no EUA. Sua extensão de 27 quilômetros não se limita ao território do CERN (Conseil Européen pour la Recherche Nucléare – Centro Europeu de Física de Altas Energias), que está localizado na Suíça e é responsável pela sua construção, mas também passa por fazendas do país e da França. Construído no subsolo, o LHC faz parte de uma pesquisa financiada por um consórcio de países do mundo todo, em especial os membros da Comunidade Européia, os EUA, o Japão e até mesmo o Brasil. Quem leu a obra ilustrada “Anjos e Demônios”, do polêmico escritor americano Dan Brown, pôde visualizar o desenho da circunferência quilométrica da máquina cujo custo mensal até agora não foi divulgado para a imprensa.

O físico brasileiro Marcelo Gleiser.

O físico brasileiro Marcelo Gleiser é um dos mais de 3.000 profissionais envolvidos no trabalho que será experimentado até o final do ano, ainda sem data marcada. Em entrevista por à LUOMO BRASIL, Gleiser, que ganhou notoriedade com os livros A Dança do Universo, O Fim da Terra e do Céu e o quadro Poeira das Estrelas da TV Globo, explica que a sua participação é apenas teórica e que outros grupos de cientistas brasileiros estão participando e somando esforços para desvendar este mistério da humanidade. Sim, a máquina garante grandes avanços, “mas não existe risco de explosões nucleares ou de buracos negros que devorarão a Terra”, ironiza Marcelo diante do que sugere a obra de ficção de Dan Brown, em que a tal máquina dá origem a um produto utilizado pelo “vilão” para explodir o Vaticano.
Ele nos explica, com uma analogia, o funcionamento do LHC. “Como saber o que existe dentro de uma laranja sem poder cortá-la? Podemos jogar a laranja contra a parede ou colidir uma laranja noutra. Se a energia da colisão for alta o suficiente, voa semente, suco e bagaço para todos os lados. Com isso, vemos o que existe na laranja. Aceleradores fazem isso, mas com partículas que compõem o núcleo dos átomos: os prótons e nêutrons”.
A explicação esclarece bem o propósito da máquina, resta saber se os efeitos de tal experimento e as conclusões sobre a origem física do homem entrarão em conflito ou complementarão as crenças relacionadas ao espírito.

ESTARIAM CIÊNCIA E RELIGIÃO EM ROTA DE COLISÃO DEFINITIVA OU AINDA RESTARÁ ESPAÇO PARA A RETOMADA DE CONSENSO?
“Todos caminham para um mesmo lugar, todos saem do pó e para o pó voltam” diz o livro do Eclesiastes capítulo 3, 20. Já Carl Sagan disse certa vez que somos todos “poeira das estrelas”. Uma prova de que ciência e religião podem caminhar juntas é o fato de que o primeiro pesquisador “a aventar a hipótese de que o universo teria surgido de uma grande explosão e de uma grande quantidade de matéria concentrada foi um padre. Em 1927, um jovem pesquisador belga que houvera sido ordenado padre quatro anos antes, Georges Henri Joseph Edouard Lamaitre, então com 33 anos, escreveu um artigo que estudava o distanciamento entre as galáxias”. (Citação do livro A dança do Universo de Marcelo Gleiser). Em dias mais atuais, o papa João Paulo II disse na carta encíclica Fé e Razão que “ambas constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade em última análise”. O cientista Stephen Hawking finaliza seu livro Uma Nova História do Tempo dizendo que, “se realmente descobrirmos uma teoria completa... todos nós, filósofos, cientistas, seremos capazes de participar da discussão de por quê é que nós e o Universo existimos. Se encontrarmos uma resposta para esta pergunta seria o triunfo último da razão humana – porque, então, conheceríamos a mente de Deus”. Marcelo Gleiser diz que “ciência e religião podem caminhar juntas desde que cada uma saiba o seu lugar. Os conflitos surgem quando uma quer invadir o território da outra, fazendo proclamações absurdas”.

CADA RELIGIÃO TEM A SUA EXPLICAÇÃO PRÓPRIA PARA A FORMAÇÃO DO UNIVERSO, SEJA A TEORIA DE QUE DEUS FEZ O MUNDO EM SEIS DIAS, COMO DIZ A TRADIÇÃO JUDAICO-CRISTÃ, SEJAM AS FASES CÍCLICAS UNIVERSAIS DE ALGUMAS RELIGIÕES ORIENTAIS.
A religião sempre foi refúgio e certeza para muitas almas angustiadas com questões existenciais. Um conforto que nunca foi suficiente para os cientistas que fazem a linha São Tomé, o ver para crer. O embate ciência X religião é antigo e por vezes tomou ares de tragédia grega como no caso do cientista católico Galileu Galilei. Quem não conhece a história do cientista que disse que o Sol, e não a Terra, era o centro do universo e depois foi obrigado a desmentir porque a Igreja da qual ele era fiel, não aceitava essa teoria? Galileu certamente foi o maior expoente de todos os tempos dessa rivalidade, mas não o único. Copérnico sofreu conseqüências ainda mais drásticas por suas descobertas, sendo queimado em praça pública. Há poucos anos o Papa João Paulo II pediu desculpas oficiais por estes e outros erros da Igreja. Em abril de 2007 o Papa Bento XVI atiçou novamente a discussão quando, depois de elogiar os progressos científicos, questionou a teoria da evolução de Darwin.
Em fevereiro deste ano foi lançado no Brasil o livro A linguagem de Deus, do cientista responsável pelo Projeto Genoma, Francis Collins. Nele Collins tenta provar que ciência e religião podem sim ser complementares e conta como deixou de ser ateu: “Havia começado essa jornada de exploração intelectual porque queria confirmar a minha posição como ateu. Isso se converteu em ruínas à medida que a argumentação da Lei Moral (e muitos outros assuntos) obrigou-me a admitir a aceitação da hipótese de Deus. O agnosticismo (termo concebido por TH Huxley, um cientista do século XIX, para indicar alguém que simplesmente não sabe se Deus existe ou não), que parecia um seguro paraíso de segunda, agora me ameaçava como a grande desculpa que em geral é. A fé em Deus parecia mais racional do que a dúvida.” Ele ainda cita a obra de Annie Dillard que discorre sobre o vazio crescente inerente ao coração e à mente humana que o mundo moderno tenta preencher: “O que estivemos fazendo em todos esses séculos senão tentando chamar Deus de volta... Qual a diferença entre uma catedral e um laboratório de física? Ambos não estão dizendo “olá”?”.
Em uma entrevista, Collins ressalta que algumas vezes os cientistas fazem ataques sem propósito a fé das pessoas e levanta outra questão, quando diz que no meio da ciência há muita fé em teorias anteriores. Marcelo Gleiser discorda e diz que “não é preciso ter fé em teorias anteriores, pois foram já comprovadas” e que “na ciência, não temos que acreditar nas nossas descobertas. Temos que acreditar na capacidade da razão de continuar a descobrir coisas novas. Mas essa é uma fé muito diferente da fé que prega que existem causas sobrenaturais no mundo”.
O fato é que em meio a tanta polêmica, até uma igreja que une ciência e religião já foi fundada. É a Igreja da Cientologia, que nasceu nos EUA e ficou conhecida em função das celebridades que a freqüentam, como o ator John Travolta. Apesar do envolvimento em escândalos financeiros na maioria dos países onde está, tal instutuição se autoproclama uma síntese entre os fundamentos da ciência e da religião.
Outro movimento polêmico é o Design Inteligente, que partindo do princípio da existência de um design na natureza, supõe que exista um designer responsável. Essa inteligência superior pode ser algo desconhecido do ser humano, seres alienígenas por exemplo, mas o modelo de Deus judaico-cristão é uma preferência.
O jornalista e mestre em Ciências da Comunicação, Francisco Bicudo, afirma em entrevista a Luomo que mesmo que possamos entender plenamente a formação do universo resta a questão “de onde é que apareceu esse Big Bang, como é que as partículas foram se concentrado e em algum momento explodiram? Quem é que gerou tudo aquilo e por quê?”. O próprio físico Stephen Hawking, no seu livro, deixa uma lacuna para esta pergunta quando diz “questões como quem armou as condições para o Big Bang não são questões abordadas pela ciência”.
Ao longo da reportagem notamos que alguns ateus admitem a possibilidade de uma força primordial criadora, mas evitam criar vínculos com dogmas religiosos, como o uso de preservativos ou a discussão sobre o aborto.
Entre os politizados, como o escritor Michael Cunningham, autor de As Horas, já declarou à imprensa que “a noção de que estou certo e, por definição, os outros estão errados, abre porta para o tipo de extremismo que parece de maneira evidente, ser a forma mais perigosa do mundo hoje”.
As evidências nos levam a crer que se o acelerador de partículas suíço provar de onde veio a matéria, mesmo assim não terá saciado todos os anseios humanos. O professor de Ciências da Religião da Puc, o doutor Frank Usarski, especialista em religiões orientais diz que “essa é uma explicação técnica, mas não fala sobre os motivos, sobre uma força criadora além desse momento”. Para o Islã, por exemplo, é algo que não faz sentido, afinal a teoria não responde as razões nem o porquê do universo existir, somente a ação de Deus explica a criação para o islamismo.

NA INTERNET
Para saber também a opinião do público leigo sobre essa discussão, formulamos uma enquete na internet que perguntava o seguinte: "Depois que a ciência responder todas as questões do ser humano, Deus e a religião continuarão necessários?". Classificamos nos assuntos Física e Religiosidade e obtivemos 81 respostas válidas. O resultado foi praticamente unânime, apenas um ou outro participante questionou: "e algum dia foram necessários?". A grande maioria acredita que Deus nunca deixará de ter o seu papel na história da humanidade, como afirma este internauta "Os cientistas estão desvendando tantas coisas, mas ainda não descobriram a cura para muitas doenças. Valorizo muito o trabalho deles, só que acho que deveriam dar mais atenção à coisas mais próximas. Os pensadores que pensem o que quiserem, mas Deus será sempre necessário". Mas o que podemos chamar de o "X" da questão levantado pelos internautas, foi a mortalidade do homem. Um deles disse "por mais que a ciência me forneça informações objetivas sobre a natureza do fenômeno morte, isso não me ajudará em nada a aceitá-la... É aqui que entra a esfera específica da religião".
O físico Marcelo Gleiser nos disse que “mesmo se algum dia tivermos uma teoria aceita que explique a origem do universo, e isso é de fato possível, não teremos eliminado a necessidade que as pessoas, ao menos muitas delas, têm de acreditar em algo superior a nós. São duas coisas muito diferentes, a explicação científica do mundo e a necessidade da fé. A ciência não deve ter como objetivo roubar Deus das pessoas. O big bang pode ser resultado de flutuações de energia sem a necessidade de um criador. A raiz da religião não está na dificuldade de entendermos a origem do universo. Ela está na dificuldade que temos de aceitar nossa mortalidade”.
Mesmo que a ciência responda perfeitamente de onde e como viemos, fica a impressão de que ela somente terá eliminado a necessidade que as pessoas têm de Deus, quando responder a última das nossas mais pertinentes questões que é: Para onde iremos?

18 de mai. de 2007

Do que as mulheres gostam?!

Matéria publicada na Revista L'UOMO Mar/Abr-2007.


Muitos homens já desejaram que suas respectivas namoradas ou esposas viessem com um manual de instruções. Alguns alegam fazer de tudo para agradá-las e reclamam das tentativas frustradas. Do desafio da primeira abordagem no barzinho até o convívio sob o mesmo teto, os desafios se alternam, mas o grau de dificuldade não. Como retomar o “dating game” depois de um divórcio? O escritor americano Peter Post precisou de 268 páginas para responder a esta e outras questões da arte de portar-se bem. Nós resolvemos entrevistá-lo por telefone e escrever uma matéria com algumas das regras fundamentais para que se faça amor e não guerra entre os sexos.
Por Bianca Moretto e Viviane Lopes.

Tudo começa no Instituto Emily Post, nome dado em homenagem a avó do escritor Peter Post de 56 anos que já publicou três livros de etiqueta, entre eles o que usamos aqui como ponto de partida. O título em inglês é “Essential manners for men”, bem diferente do publicado no Brasil “Do que as mulheres gostam”. Quando perguntamos o que ele acha da tradução, Peter ri e diz estar surpreso, mas não descontente.
Durante alguns meses mulheres do mundo todo responderam a uma pesquisa disponível no site do Instituto. Com perguntas que variam entre “o que mais te irrita em um homem” e “o que mais te agrada” as representantes do sexo feminino foram revelando os seus desejos por trás da frágil auto-suficiência. Foram 4 questionários divididos em: Dia-a-Dia, Vida Social, Vida Profissional e Ocasiões Especiais. Com base nesta pesquisa e nas experiências vividas durante os seus 32 anos de casamento, Peter colocou no papel dicas essenciais para viver em paz com o sexo oposto.
Como ele mesmo disse, “etiqueta não é simplesmente um conjunto de regras a serem seguidas, mas um código segundo o qual devemos tratar bem as pessoas, baseados nos princípios de consideração, respeito e honestidade.” A regra parece ser muito simples, tão óbvia que quando desmistificada pode perder o merecido valor.
O homem moderno parece ter se esquecido de algumas regrinhas básicas, e muito importantes, para a convivência pacífica com a sua companheira. Algumas palavras e atitudes de cavalheirismo sumiram. “Por favor, Muito Obrigado, Com licença, parecem ser vistas pelos homens como palavras ultrapassadas para o uso cotidiano”, reclamam as mulheres que responderam a pesquisa. E a insatisfação não para por aí. Velhas discussões entre os sexos como: ser pontual, tirar o chapéu em ambientes cobertos, abrir a porta do carro, abaixar a tampa do vaso sanitário, cuidar do asseio e usar a roupa correta para cada ocasião, continuam presentes na lista das reclamações femininas.

ESTA NÃO É A PRIMEIRA OBRA QUE TENTA AJUDAR OS HOMENS A DESVENDAR OS MISTÉRIOS DO UNIVERSO FEMININO
No filme “What women want” com tradução para o português, igual a do livro, “Do que as mulheres gostam”, o ator Mel Gibson interpreta um executivo bem sucedido que acreditava ser um verdadeiro presente de Deus para qualquer pretendente. Porém, depois de um acidente, passa a ouvir tudo o que as mulheres estão pensando e descobre que a opinião delas a seu respeito não era exatamente o que ele imaginava. Já que a vida real não nos presenteia com tais dons, apure os seus sentidos e a sua percepção. Esteja alerta para admitir que algumas atitudes consideradas por você como superacertivas podem estar erradas. Fizemos um teste com um casal próximo. O rapaz explica que a namorada nunca fez questão que ele abrisse a porta do carro. “Vou parecer antiquado”, disse. Por isso, ele só abria quando estava muito próximo ou quando ela precisava de ajuda por carregar alguma coisa. “Ela não liga pra isso, ao menos nunca falou”. Quando a parceira chega na sala e perguntamos o que ela acharia se ele sempre agisse com tal cavalheirismo. A resposta foi imediata: “Seria incrível, eu adoraria. Mas, ele nunca faz isso.” Falta de atenção dele ou orgulho por parte dela?
Para Peter, as mulheres são “igualmente culpadas pelo excesso de feminismo, por querer sempre mostrar que falam de igual para igual, quando na verdade as diferenças existem sim e não há nada de errado nisso”.

AS MULHERES MUDARAM. MAS SERÁ QUE OS HOMENS ACOMPANHARAM?
Uma jornalista do New York Times publicou em seu blog pessoal que está insatisfieta com as consequências da sua liberdade sexual conquistada com esforço pelas suas ancestrais. Aos trinta anos ela, depois de se dar o direito de curtir vários namoros relâmpagos, está solteira, morando sozinha, e sem pretendentes para o, agora desejado, matrimônio sólido. Os homens parecem aprovar a fase “viva o momento” mas na hora de casar ainda preferem as conservadoras. Falando em casamento, no Brasil as uniões oficiais diminuíram. De acordo com o IBGE, “a taxa geral de nupcialidade legal caiu gradualmente durante a década, passando de 8,0 por mil habitantes em 1990 para 5,7 por mil em 2001”. Essa tendência de queda foi observada principalmente no Sudeste e no Sul do país. Na Europa não é diferente. O Instituto de Estatística Italiano acaba de divulgar um estudo intitulado: “O casamento na Itália: uma instituição em mudança”. O trabalho revela que cresce o número de casais que decidem formar uma família sem o vínculo do casamento. Além disso, as relações são oficializadas cada vez mais tarde, quando os homens tem em média 32 anos e as mulheres 30. Talvez a jornalista americana tenha maiores chances por lá.

NÃO É DE SE ESTRANHAR QUE VOCÊ NÃO SAIBA O QUE AS MULHERES QUEREM, TALVEZ NEM ELAS SAIBAM
O sexo feminino está provando as delícias e os dissabores das suas escolhas, e está cada vez mais difícil impor as suas vontades sem cair em contradição. As mulheres querem cavalheirismo e liberdade, querem um homem dedicado que também seja um bom amante, podem até dividir as despesas desde que os salários estejam equivalentes, mesmo as que possuem o dom de cuidar da casa acham justo dividir a louça depois do jantar. Porém, não abrem mão de “little niceties”, usando a expressão de Peter, que quer dizer pequenos gestos que demonstram dedicação, amor e respeito como: abrir as portas, puxar a cadeira, trazer flores - nem que seja uma -, levar café na cama, etc.
Quanto ao ambiente de trabalho, é importante ressaltar que a cultura de cada país influencia bastante na postura que deve-se tomar. Entrar em um elevador sozinho com uma mulher é uma situação evitada pela maioria dos homens nos Estados Unidos. Lá, não é preciso muito para ser processado por assédio sexual. Voltando a nossa enquete com pessoas próximas, arrisco em revelar a tática adotada por um colega de trabalho. Ele diz criar uma linha imaginária de dois metros de distância de todas as mulheres com quem estabelece vínculo profissional: “Assim, não há riscos de confusão ou mal entendido”, revela com senso de humor.
Se você também tem reivindicações a fazer, vale a dica: apesar do livro “Do que as mulheres gostam” ter sido escrito para o público masculino, as regras de etiqueta valem para os dois sexos. Tanto que o autor acredita que o número de homens e mulheres que compram, lêem e apreciam a obra é proporcionalmente equivalente.
O título do livro dá margem a muitas especulações. Do que as mulheres gostam poderia ser um livro de conquista, de relacionamentos, de sexualidade, enfim, inúmeros assuntos. Não é, mas uma coisa é certa, apesar do livro não possuir o intuito de ensinar nenhum homem a ser um conquistador irreparável, aquele que seguir os conselhos de Post certamente fará muito mais sucesso com as mulheres.
Certa vez durante uma tarde de autógrafos, o autor foi abordado por um homem que após 20 anos de casamento tinha acabado de se divorciar. Naturalmente depois de tanto tempo fora do jogo da conquista, ele não sabia como voltar ao “dating game”. Sem saber como agir, muitos homens, mesmo os que não ficaram um único dia sem conquistar alguém, ainda não sabem a melhor maneira de abordar uma mulher.
Para finalizar, Peter tem um passo a passo para a primeira abordagem que poderá te ajudar da próxima vez que encontrar aquela mulher maravilhosa, com a qual você sonha há tempos.
Antes de começar – Faça uma autochecagem e mostre o seu melhor lado, positivo, entusiasmado e autoconfiante.
Primeiro: sorria e faça contato visual – A paquera começa quando você sinaliza seu interesse em outra pessoa ou vice-versa. Para que isso aconteça, naturalmente você terá que se arriscar e sorrir primeiro.
Segundo: a abordagem – Agora você enfrentará o maior obstáculo, puxar conversa. Não existe abordagem perfeita, portanto nem pense em cantadas decoradas, isso soará falso. A honestidade com uma pitada de modéstia muitas vezes faz milagres.
Terceiro: entabule um diálogo – Esteja atualizado em diversos assuntos interessantes como política, esportes, celebridades, cultura, entretenimento, enfim tudo. Você pode ir treinando a interação com desconhecidos. Vale tudo, taxistas, entregadores, caixas de supermercado, etc. A lista é infinita.
Quarto: esteja atento – Fique alerta aos sinais que a outra pessoa emite. Nem sempre seus esforços serão frutíferos, você precisa estar preparado para aceitar esses sinais com dignidade e se retirar na hora certa. Nesse caso sorria e responda: “Divirta-se! Foi legal conhecer você”. Fórmulas a parte, “Dedicação, respeito e honestidade” são fundamentais, esta tríade nunca será antiquada.

O refúgio do caçador.

Matéria publicada na Revista L'UOMO, edição de Mar/Abr-2007.


Aspirantes a cargos executivos de todo país poderiam rezar para conhecê-lo. Com um nome que não nega a origem alemã, Günter Keseberg já participou da contratação de cerca de 1000 profissionais para cargos de alto escalão no Brasil e na Europa. O headhunter que atua no mercado de Recursos Humanos há mais de 20 anos, me recebeu no restaurante de um requintado hotel da capital paulista para revelar à Luomo a sua fonte de sabedoria e pesquisa. Acredite, este caçador de talentos tem refúgios que vão além dos resorts com camas cobertas por lençóis egípcios.
Por Bianca Moretto

O perigo de pôr em risco a sua integridade física e moral logo são alertados pela companhia de viagens especializada em roteiros exóticos. A Rota da Seda foi o último destino de férias escolhido por Gunter para passar 20 dias. “Ao contrário do velejador Amir Klink que prepara cada centímetro do seu barco e planeja todo o trajeto com muita disciplina e precisão, em viagens como esta o mal tempo não é o único imprevisto que pode ocorrer” garante Gunter. O itinerante assume a responsabilidade por possíveis danos pessoais e materiais em casos de guerra, acidentes e instabilidade política. Além disso, o atendimento médico não é garantido em todas as áreas do percurso escolhido. O aviso é válido, o Focker 50 ocupado pelo nosso entrevistado em uma das suas expedições, caiu uma semana depois de ele ter estado a bordo. Mas, o que leva um intelectual graduado em História, Ciência Política e Economia pela Universidade de Colônia, Alemanha, e pós-graduado na Universidade de Luneburg, do mesmo país, a se arriscar tanto? Parece ser mais do que adrenalina. Segundo Gunter, conhecer a essência de outras culturas ajuda e muito na hora de escolher um profissional compatível ao posto requerido.
Contudo, deixando o trabalho à parte, encontramos um pouco do espírito aventureiro e desbravador do Marco Polo nesta história. A Rota da Seda, expressão cunhada no século 19 pelo estudioso alemão Ferdinand von Richthofen, é uma legendária rede de estradas que conectavam o Extremo Oriente ao Mediterrâneo. Entre o século 2 antes de Cristo até meados do século 16, milhares de caravanas de camelos transportavam mercadorias do Oriente para a Europa e vice-versa. A seda, objeto de desejo dos ricos e poderosos da Europa e do mundo árabe, foi escolhida como símbolo dessa imensa rede de comunicação terrestre. O relato da incrível saga de Marco Polo que durou 24 anos, foi eternizado por Rustichello da Pisa, seu colega de cela em Gênova, que escreveu em francês provençal “ O Livro das maravilhas - A descrição do mundo”. Dos três volumes da obra Gunter leu dois. Lendários ou não, alguns relatos de Marco Polo são considerados importantes referenciais históricos até os nossos dias.

FARTO DE REPERTÓRIO ELE PARTIU, COM A ESPOSA RUMO A PARIS, DE LÁ PARA LONDRES E FINALMENTE TASHKENTE, A CAPITAL DO UZBEQUISTÃO
Farto de repertório ele partiu, junto com a esposa, rumo a Paris, de lá para Londres e finalmente Tashkent a capital do Uzbequistão. Daqui por diante a geografia varia entre grandes lagos e grandes desertos, isto sem falar de algumas das maiores montanhas do mundo. Mesmo durante o frio mais rigoroso o lago Issuk kul nunca congela, as estradas não fecham e os hotéis são bem aquecidos. Porém, caso você queira se aventurar por lá, Gunter sugere que faça esta viagem em julho, quando a temperatura fica entre os 15 e 30 graus celsius. No Quirguistão, por conta da altitude, a temperatura pode variar de 20 a 10 graus em minutos.
Continuando o passeio, chegar a Khiva é como visitar um museu a céu aberto. As suas muralhas guardam mesquitas e madrassas (escolas islâmicas) praticamente intocadas pelo tempo. Chega a hora de cruzar o deserto do Karakum para alcançar a cidade de Bukhara. Famosa por seus tapetes, a região central está repleta de bazares coloridos que inspiram as compras. Até o próximo ponto de parada são mais seis horas de carro entre aldeias e natureza agrícola do povo Uzbeki. Samarkand abriga um enorme complexo de mesquitas que formam uma praça central. Gunter me conta, enquanto mostra as fotos da viagem, que o observatório astronômico de Ulugbek atesta que o primeiro mapa astral fora feito lá há cerca de 1400 anos.
Estamos quase na metade da viagem e quando pergunto o que mais lhe chamou a atenção no trajeto, Gunter é breve em dizer que “a ausência de mulheres nas ruas é notável, bem como a forma com que os homens “trabalham” o seu tempo ocioso tomando chá e conversando.” Para o nosso caçador de talentos saber disfrutar o ócio requer sabedoria. (Bem, sabe disso quem é empurrado pela velocidade frenética de uma metrópole. A correria pode se tornar um vício e o tempo livre um tédio.)
Bem vindos a Bishkek, a capital do Quirguistão. As avenidas arborizadas e a proximidade dos Montes Alatau com seus picos nevados são o cenário desta ataente cidade onde a influência russa serviu de base para o entrosamento entre a Ásia e a Europa. O estilo russo também se revela nas casas estilo colonial e na catedral de Karakol totalmente de madeira, sem um único prego sequer. Quanto aos hábitos alimentares eles adotaram uma dieta rica em carnes, arroz e pão, o tempero por alí não é um ponto alto. O custo de cada refeição no hotel gira em torno dos 10 dólares. Gunter chama a atenção para o fato da comida em outros estabelecimentos ser até 50% mais barata.
Aqui começa um dos mais novos palcos de trekking do planeta: o Tian Shan que quer dizer montanhas celestiais. Aos 3752m de altitude está a fronteira entre o Quirguistão e a China. Uma linha que divide dois mundos completamente opostos e até bem pouco tempo vetado a ocidentais. Uzbequistão, Quirguistão, Kasaquistão e China, todos estes países exigem visto e é preciso providenciá-los 30 dias antes da partida. Outro detalhe importante: a febre amarela ainda não foi erradicada na América Latina, por isso a vacina contra a doença é exigida aos brasileiros.
A viagem ainda não acabou, mas abro um espaço para comentar que enquanto conversávamos sobre a Mongólia, Gunter sugeriu que eu assistisse ao filme “Camelos também choram”. O documentário não tem nada do perfil americano com clímax, ou finais previsíveis. O enredo em que uma família mongol revela os seus hábitos e valores para sobreviver no deserto como nômades, uma prática quase em extinção, é instigante. Os camelos são um elemento indispensável para sobrevivência deste povo. O respeito com que eles tratam os animais é admirável. “Os homens de hoje cuidam da natureza como se fossem a última geração aqui na terra” , diz um dos personagens em tom de ensinamento ao neto que o escuta com atenção. Pelo óbvio, entende-se que não há tv por ali, assim, sobra tempo para a tão esquecida quanto fundamental comunicação interpessoal. Termino o comentário sobre o filme dizendo que me impressionou o fato de que por mais que o camelo fêmea estivesse sofrendo com dores do parto os mongóis só interfiriram quando tratava-se de preservar a integridade vital dos animais. Contemplação, eis o predicado que muitas vezes nos falta.
O último trecho do percurso... As altitudes nas cordilheiras Tian Shan, Pamir e Karakoram vão de 5 a 8 mil metros . Chove pouco na região e o céu tende a estar sempre azul. Enfim Kashgar, este é um dia nobre na vida de qualquer explorador. A cidade tem sido pedra fundamental nas rotas comerciais nos últimos 2000 anos. Uma grande feira movimenta uma confusão organizada onde barganha-se de tapetes a cavalos ao lado do museu da seda.
Com tantos nomes de pronuncia complicada somados a variedade de informações, redigir e compreender este texto não são tarefas fáceis. Então, imagine assimilar a vivência do conteúdo adquirido em uma viagem como esta?! Gunter sugere que aventuras assim, sejam feitas com intervalos de três anos, tempo suficiente para entender o que viu, olhar as fotos, relembrar dos detalhes e aplicar as lições de vida no dia a dia. Então, quando o espírito aventureiro voltar a te instigar, está na hora de começar uma nova pesquisa para a próxima viagem.
Assim, aos candidatos, fica o aviso: “antes de ser um bom profissional é preciso ser um homem íntegro com princípios bem estabelecidos e literalmente fazer juz ao termo “homo duas vezes sapiens”. Talvez, em algum momento, como o velejador citado no início do texto, seja preciso sair de “terra firme” para retomar a essência da vida e perceber que o mundo não vira um precipício no horizonte.
Enquanto você lê esta matéria Gunter está em algum ponto da América Latina no comando de uma Land Rover. Uma viagem de 10.000 kilômetros em solitário. Quando voltar irá direto para o seu refúgio na Bahia, uma casa com 500 metros quadrados e quatro suítes que construiu em 1993 em Santo André para viver com a família e receber os diretores de grandes empresas como Enzo, Mercedes Benz e Semp Toshiba. O cantor Julio Iglesias já tentou comprar esta residência por 1 milhão de reais , mas a proposta foi recusada. Afinal, sejam estas incríveis expedições um sinal de busca ou de fuga, como diz o próprio Gunter: “ o importante é ter um porto seguro para onde voltar”.
Em tempo: Gunter mantém um Centro de Convivência Cultural em Santo André, Bahia. Lá cerca de 85 crianças fazem aulas de computação, dança, música e artes. Ele mantém esta ONG sozinho desde 1992.

Prefácio do livro "Cidade Esperança"

Ainda no início do curso de jornalismo, descobrimos por que tal área se diferencia das outras da comunicação social. Uma enquete realizada para um trabalho disciplinar sobre mensagem subliminar, entre alunos de publicidade e de jornalismo, revelou que os primeiros usariam estímulos ao subconsciente dos consumidores em suas campanhas como artifício para aumentar as vendas. O resultado causou o repúdio dos futuros jornalistas, que estavam mais preocupados com o bem-estar e o equilíbrio da população.

O espírito do repórter clama por justiça social, tem sede das mais diversas culturas, almeja viagens e descobertas que possam completar o quebra-cabeça da humanidade, que resiste para não se desfazer em meio a guerras e desigualdades sociais.
Com base nesse princípio, começamos a pensar em um tema que fizesse diferença nos dias de hoje. Queríamos um assunto relevante para a sociedade e que ainda não tivesse sido amplamente abordado. Saúde, pensamos.
Bem, pode-se escrever uma enciclopédia a respeito. Doenças raras, pessoas que morrem sem nem se dar conta do que sofriam, fórmulas de remédios que não são pesquisadas porque não dariam lucro suficiente aos laboratórios. Era preciso ser mais específico.
O projeto deste livro-reportagem é ousado, por se tratar de um trabalho de conclusão de curso que deve ser produzido no prazo de um ano. A praticidade e a viabilidade do produto são quesitos a serem considerados com seriedade. Concluímos ser inviável contar com a boa fé de um laboratório que abrisse suas portas para duas estudantes de jornalismo. Mas o tema ainda nos encantava. Bastava encontrar um outro enfoque.
Partimos para a pesquisa, e todos o caminhos da saúde nos levaram ao Complexo Clínicas. Por alguma razão, seus institutos estão sempre lotados. Mesmo se tratando de um órgão público, algumas pessoas preferem passar longas horas dentro de um ônibus, missão nada fácil, em lugar de recorrer ao posto médio que fica a algumas quadras de suas casas. Não é à toa que recentemente foi instituída uma lei estadual para que os usuários dos serviços públicos de saúde agendem as consultas por telefone. Assim, conforme o fluxo de pacientes, as atendentes podem direcionar e distribuir a população entre todos os hospitais públicos de maneira mais equilibrada.
Há também os médicos renomados que deixam os seus países para vir aprender aqui no maior hospital da América Latina. E, ainda, profissionais brasileiros que participam de pesquisas no exterior e voltam para implantar no HC as descobertas mais recentes.
Este patrimônio é nosso! Completou 61 anos no dia 19 de abril de 2005 e ocupa uma área total de 352 mil m2, com cerca de 2.200 leitos distribuídos entre os seus seis institutos especializados, dois hospitais auxiliares, uma divisão de reabilitação e um hospital associado. O atendimento é realizado por uma equipe multidisciplinar composta por profissionais das mais diversas áreas, da enfermagem à fisioterapia, da nutrição ao serviço social, da fonoaudiologia à farmácia, englobando um conjunto de especialidades sem paralelo na América Latina.