3 de out. de 2007

Você faz a diferença?

Matéria publicada na Revista L'UOMO Setembro/Outubro-2007.

Fazer parte do time de executivos bem-sucedidos e requisitados pelo mercado não é uma tarefa simples. O profissional precisa preencher uma série de características que fazem, e muita, diferença.
Por Bianca Moretto e Viviane Lopes

Até pouco tempo atráspara ser um executivo de sucesso, objeto de desejo das maiores empresas, bastava gerar lucro a qualquer preço. Hoje nem todas as organizações pensam e agem assim. Uma nova geração de gestores de pessoas, com visão integrada, está a caminho. Aquele executivo que se dedicava predominantemente a tarefas administrativas e rotineiras também cedeu lugar a outro, preocupado com o desenvolvimento do capital humano, de novas competências, formação de talentos, de lideranças, equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, inserção não invasiva da empresa na comunidade, de forma ética e com responsabilidade social. Claro, também voltado para a geração sustentável de lucros, de tal sorte que as metas financeiras não comprometam a harmonia interna e se situem dentro de uma relação saudável com os funcionários.
Irene Azevedo, professora da Brazilian Business School e também sócia associada da Keseberg & Partners, uma das cinco maiores no setor de seleção e recrutamento de altos executivos, acrescenta novos ingredientes à fórmula de sucesso dos que agora fazem a diferença no ambiente corporativo brasileiro: equilíbrio e agilidade. Para adquirir tais virtudes só há um caminho: o auto-conhecimento. Vale terapia, exercício diário de leitura e mesmo meditação, afinal o processo de crescimento pessoal deve ser constante e eterno. “Quem está seguro de si se torna capaz de escutar e entender melhor os seus liderados”, resume Irene. “É preciso liderar pela diversidade, contratar pessoas que supram as minhas deficiências e não, simplesmente, alguém que seja uma mera cópia de mim mesma”, acrescenta eIa. "Um líder que faz a diferença é capaz de preparar um sucessor e contrata pessoas que poderão vir a ser tão aptas quanto ele. Não gerencia pela mediocridade, mas trabalha para que todo o grupo se desenvolva. Isso se faz atribuindo responsabilidades e verificando quais são as necessidades deste grupo", acrescenta.
No mundo globalizado vence quem está disponível para total mudança e se torna uma pessoa sem fronteiras. Além disso, a humildade de admitir que não sabe tudo e a coragem de enfrentar os desafios são características fundamentais em um líder. Muitas vezes, quando um alto executivo é contratado, a companhia em questão precisa de mudanças radicais para manter uma linha de crescimento. Neste caso, a percepção do profissional deve estar aguçada para tomar atitudes coerentes e éticas, ou seja, para encontrar o equilíbrio entre o balanço financeiro e a integridade dos funcionários.
Outro ponto que Irene relembra é que "o network não pode morrer”. Fazer marketing pessoal e se apossar das suas habilidades e características, é tão importante quanto saber usá-las na hora correta e de acordo com cada ocasião. A técnica de questionar os seus funcionários para que eles próprios assimilem como solucionar os problemas do seu departamento, também conhecida como coaching, é uma característica essencial para executivos em cargos de liderança. E para não perder as rédeas, mesmo em situações e ambientes de total ambigüidade, use a resiliência pessoal. Ou seja, tenha autocontrole, conheça bem o território, fique informado sobre os recursos disponíveis e trace um plano de ação.
Hoje, a palavra chave que as companhias buscam é sustentabilidade. “Resultados que sejam de longo prazo e que levem em conta todos os stakeholders - funcionários, clientes e até a sociedade de um modo geral. Não basta melhorar a empresa, um líder deve se preocupar em construir um mundo melhor”, explica a associada da Keseberg.

João Ramires, 35 anos, CEO da Coca-Cola em Cingapura.

ELES FAZEM A DIFERENÇA
João Ramires é um dos que definitivamente faz diferença. Aos 35 anos, é formado na área financeira, com MBA em finanças e treinamentos executivos no INSEAD da França, e Wharton nos Estados Unidos. Além da língua nativa, é fluente em inglês e espanhol. Para ele fazer as malas não parece ser problema, já que nos últimos 10 anos, morou nos Estados Unidos, Cingapura, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco e Ceará. Hoje como contratado da Coca-Cola em Atlanta, é um CEO expatriado da engarrafadora em Cingapura e tem como missão tornar o mercado de Cingapura uma das referências na Ásia. “O foco em pessoas e talentos é uma das prioridades, a fim de desenvolver líderes com o foco em resultado e de alta performance. O somatório de culturas e experiências, de pessoas do Brasil, China, Índia, Malasya, Filipinas etc, trabalhando como uma verdadeira equipe, gera uma alanvacagem enorme, em termos de idéias, atitudes e resultados”, explica ele.
A liderança servidora de que se tanto fala atualmente nunca foi tão necessária. Um verdadeiro líder entende que desenvolver pessoas é mais do que um trabalho, é uma possibilidade de agregar valor. Não só na vida profissional, mas também na vida pessoal de seus liderados. Habilidades desenvolvidas no mundo empresarial, como saber ouvir ou desenvolver sua sensibilidade em gerenciar conflitos e lidar com gente, são aplicáveis na vida pessoal. Promoções, melhores salários, grandes desafios, ser um executivo de alto escalão, são apenas consequência dessa postura. “Tenho muitas metas, porém a mais importante é ser feliz com minha família. Sem ela, minhas realizações profissionais não valem a pena!”, enfatiza.
Rogerio Oliveira é outro nome que faz diferença no mercado. Assumiu a presidência da IBM Brasil, em 2002, e tem como principal missão conduzir um processo de transformação na empresa. De lá pra cá, a companhia aumentou seu foco em serviços, duplicou de tamanho em termos de faturamento e número de funcionários e ainda entrou para a lista das 10 maiores IBMs no mundo. Rogerio é formado em Ciências da Computação pela UNICAMP, com pós-graduação em Administração de Empresas pela FGV-SP. Além de falar fluentemente inglês e espanhol, já trabalhou nos EUA e Colômbia. Antes de ser nomeado presidente da IBM Brasil há 5 anos, atuou como vice-presidente da IBM Brasil, do setor financeiro para a América Latina e assumiu a gerência geral da empresa. Segundo ele, "um líder deve saber escolher as pessoas certas e depois ter a capacidade de trabalhar e conviver da melhor forma com elas". Ele acredita no poder do time, por isso valoriza princípios como colaboração e integração. Procura passar sempre para a sua equipe a importância de saber ouvir, trocar opiniões e delegar na hora certa.
Sobre o mercado, Rogerio explica que "o executivo precisa estar atualizado e bem informado; entender o contexto e o cenário da indústria que representa; conhecer bem e manter um ótimo relacionamento com seus clientes e parceiros". No mundo globalizado e em constante mudança, é essencial ter flexibilidade e adaptabilidade além de entender os impactos que a globalização traz para os negócios e para a sociedade em geral. Gerenciar os processos de negócios para produzir um impacto positivo e colaborar para o desenvolvimento do bem-estar da sociedade também é seu papel. Rogerio considera importante "ter consciência de que as decisões de negócios não estão mais exclusivamente nas mãos das empresas. O mundo agora é colaborativo, e este modelo é construído pelos parceiros, funcionários, clientes, e outras entidades da sociedade. Esse mundo interconectado em que vivemos está gerando mudanças significativas nos modelos de negócios, vai sobreviver quem entender e embarcar primeiro nesta nova onda".
Por fim, ele reconhece que "um bom líder tem que cuidar de si mesmo, em termos de saúde e preparo físico, para aguentar a agenda cheia, as viagens, a pluralidade de assuntos, decisões e pressões". Rogerio não tem data para se aposentar e pretende continuar trabalhando enquanto puder contribuir e fazer diferença na IBM e na sociedade.

O PERFIL DOS QUE FAZEM A DIFERENÇA
A Watson Wyatt Worldwide possui inúmeras pesquisas e estudos sobre o assunto e o consultor de capital humano, Antonio Botelho, nos disse que “cada vez mais, questões inerentes à ética e valores, morais e pessoais, estão sendo analisadas, cobradas e reconhecidas como agente integrante do sucesso em sua plenitude". Para presidentes, diretores ou gerentes “são valorizados e esperados, além de resultados econômico-financeiros sustentáveis e agressivos, formação acadêmica ou técnica e fluência em idiomas, reciclagem constante, experiência multicultural, etc. Além disso, o profissional deve ser comprometido com a organização, o negócio e a cadeia de relacionamentos (clientes, fornecedores e parceiros)". Dinamismo, flexibilidade, comunicação eficaz, negociação, relacionamento interpessoal, trabalho em equipe e liderança de pessoas e de projetos também são imprescindíveis.
As empresas são aficionadas por profissionais que fazem acontecer e para atraí-los “desafios profissionais, pacote de remuneração, autonomia, poder e possibilidades de ascensão na carreira no curto e médio prazos são as variáveis estratégicas mais utilizadas para convencer executivos que agreguem valor.” Os benefícios não páram e podem incluir muito mais, desde blindagem de automóvel a participação nos lucros.
Se você está no felizardo grupo dos executivos que fazem a diferença: sorria, seu futuro promissor promete muito mais do que se pode sonhar.

E NA HORA DE MUDAR?
Nesse contexto, muitas vezes o executivo precisa ou quer mudar de empresa. A D. Queiroz Associados oferece há 19 anos assessoria a executivos que almejam cargos mais elevados. Newton Lima observa que “nunca viu o mercado tão favorável quanto agora. Em 2006 tínhamos em média 450 vagas, neste ano são 900”. Grandes empresas como Nestlé, Arno, Tetra Pak, Albert Einsten, Accor, geralmente recorrem a este serviço, mas é o candidato que arca com os custos.
O headhunter Ricardo Gambarotto da Spencer Stuart, uma das maiores do mundo no setor de recrutamento, explica que muitas vezes o candidato perfeito já está empregado e não quer deixar a empresa atual, aí entram as propostas milionárias. Nesse processo de mudança existe uma garantia caso "o executivo deixe a companhia por incompatibilidade de estilo, mudança de cargo ou dificuldade para adaptar-se a cultura". Aliás, esse último é um ponto em que mais uma vez, o executivo versátil faz muita diferença. Executivos latino americanos que precisam migrar de estado, ou de país, sofrem muito com as mudanças culturais. “Mesmo dentro do território brasileiro há diferenças culturais a quais os profissionais não querem se sujeitar. Este fenômeno não acontece na Europa.” Quem estiver pronto para o desafio, com certeza vai levar vantagem.
Se o caso for de demissão o executivo também não fica desamparado. Empresas como a Lens & Minarelli e a DBM, prestam consultoria especializada em Outplacement ou recolocação no mercado De acordo com José Augusto Minarelli, o termo nasceu nos Estados Unidos há 30 anos, quando as companhias sentiram necessidade de dar uma atenção especial a colaboradores de anos que por alguma razão foram demitidos. O processo consiste em orientar e direcionar o executivo para ser recolocado em outra empresa ou abrir seu próprio negócio. Alguns aproveitam o momento e se aposentam. Cláudio Garcia da DBM, acredita que o serviço de outplacement funciona porque “faz justiça ao profissional demitido e motiva aqueles que ficam e observam o cuidado tomado pela empresa na hora do desligamento”.