Matéria publicada na Revista L'uomo Brasil Novembro/Dezembro 2008.Investidores que pagam em cash e obtém a tão sonhada casa de veraneio. Por Bianca Moretto, de MiamiMiami Beach
No final da década de 80, Hercules Pimenta deixou o cargo de diretor da Pirelli no Brasil, vendeu tudo o que tinha e se mudou para a Flórida. Com o dinheiro, comprou 10 casas financiadas, construiu outras 13 e vendeu todas elas para brasileiros.
"Para deixar a casa pronta, precisávamos de aproximadamente 90 dias. Então o dinheiro girava rápido”.
Por conta da localização geográfica e da estrutura dos meios de transporte, Hercules acreditava que “Miami poderia ser a Cingapura do Ocidente”.
No início da década de 90, a maioria das lojas em Downtown Miami pertencia a brasileiros. No entanto, em 1992, o furacão Andrew destruiu a cidade deixando um prejuízo de 25 bilhões de dólares. No ano seguinte, Bill Clinton foi eleito presidente e adotou uma postura protecionista à indústria americana. O inesperado aconteceu: a economia ficou instável, os produtos importados foram sobre taxados e passaram a ser vistos com maus olhos e, simultaneamente, caiu o poder de compra dos clientes estrangeiros. O que parecia sonho virou pesadelo para muitos comerciantes que tiveram que fechar as suas empresas e voltar para o Brasil.
A VIRADAHoje o Brasil é o parceiro comercial nº 1 da Flórida. Para atender essa demanda, o Consulado Brasileiro em Miami possui um Setor Comercial (SECOM) que opera o "Brazil Trade Net".
“Trata-se de um cadastro com informações comerciais importantes, tanto de empresas brasileiras quanto de empresas norte-americanas, e que tem como objetivo a promoção comercial de produtos e serviços brasileiros no mundo todo. A assessoria oferecida pelo consulado é gratuita”, explica o cônsul Roberto Parente.
Entre as dezenas de companhias cadastradas estão a Embraer, Odebrecht, Gerdau, TAM e outras de pequeno, médio e grande porte. Os bancos também estão investindo por aqui. Em 2006, o Itaú comprou o Bank Boston e ao adquirir no "pacote" uma subsidiária do grupo com sede em Miami, passou a atuar aqui nos EUA como Private Banking (Itaú Personnalitè).
Maria Hilda Feitosa que trabalha no setor comercial do consulado brasileiro há 19 anos, explica que “ficou fácil abrir uma empresa nos Estados Unidos porque todo processo é eletrônico”. Além disso, a APEX, Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, funciona como um Serviço Social Autônomo ligado ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. A APEX-Brasil acaba de expandir o Centro de Negócios de Miami. Agora, eles dispõem de 3.500m2 e oferecem importantes recursos às empresas brasileiras como áreas de escritórios, salas de reunião para encontros com compradores e showroom de produtos brasileiros.
O exportador que se instala no Centro, conta com apoio operacional para viabilizar o recebimento, armazenamento e despacho de mercadorias, incluindo Pick and Pack. Outra facilidade é a utilização dos escritórios da Apex-Brasil, incluindo eventuais despesas com telefone, fax e internet. O CN também dá suporte na seleção e contratação de serviços em Miami, tais como advogados, contadores, freight forwarders. Isso sem falar da organização de eventos promocionais nas dependências da Miami Free Zone.
Segundo a APEX, os setores com potencial de participação no mercado local são: instrumentos musicais, confecção, têxtil, gesso, móveis, cosméticos, equipamentos médico-odontológicos, alimentos, café, tintas, equipamentos eletrônicos, autopeças e plásticos.
Loja Carlos Miele em um dos mais elegantes shoppings de Miami.
OS EMPREENDEDORESAlexandre Berger acaba de abrir uma loja Carlos Miele em um dos mais elegantes shoppings da cidade.
“Queria trazer alguma coisa do Brasil para os EUA e o Carlos Miele é o estilista brasileiro com nome mais forte fora do Brasil. Além disso, suas criações são a cara da mulher de Miami: uma mulher cosmopolita, internacional, tropical, sensual e preocupada com o corpo."
O investimento não é pequeno, além de propagandas em revistas, desfiles de moda e participação em diversos eventos, Alex conta com uma boa agencia de relações públicas para divulgar a marca na imprensa.
“A legislação americana é bastante simples para abrir a empresa. As dificuldades, em especial em Coral Gables, são as regras de construção locais, que tornam a obra demorada e custosa. Abrir uma loja em um shopping nos EUA custa em média entre 500 mil e 1,5 milhão de dólares. Dependendo de quanta reforma é necessária na loja, dos depósitos e das cartas de crédito exigidas pelo centro comercial e o tipo de acordo com a marca licenciadora”.
A também brasileira Ana Rocha fez mestrado na Universidade de São Francisco antes de vir à Miami. Diretora da inlingua Language Center, em Key Biscayne, ela sabe a importância de aprimorar o idioma para fazer bons negócios por aqui.
“Somos nove institutos no sul da Florida, com 20 funcionários fixos e mais de 200 professores de todos os idiomas. Cerca de 1.000 alunos estão matriculados, entre eles há muitos filhos de brasileiros que começaram a alfabetização no Brasil e se mudaram para cá. Eles buscam o nosso curso para ter um bom desempenho no novo colégio, onde estudarão. Fora isso a escola oferece o visto de estudante (I-20), um diferencial que serve como chamariz a novos clientes. Dessa forma, apesar da crise atual, nos mantemos estáveis”, explica Ana que viaja ao Brasil no mínimo duas vezes por ano para visitar a família, os amigos e captar novos clientes.
EFEITO DOMINÓAté o ano 2000, o custo de um imóvel em Miami era irrisório se comparado ao de outras grandes capitais americanas. No entanto, as construtoras enxergaram um novo potencial na cidade por conta dos baby boomers. O mercado entendeu que as crianças geradas no pós-guerra estavam se aposentando e buscavam por um lugar para morar que fosse agradável, com clima tropical e que oferecesse qualidade de vida.
Houve uma explosão de vendas neste segmento. Vários prédios foram construídos simultaneamente e um único investidor chegava a comprar dezenas de unidades. Em menos de 2 anos, o m2 que custava 2.500 dólares, saltou para cerca de 5 mil dólares. Na Brickell, o bairro favorito dos brasileiros, o m2 chegou a custar 7 mil dólares. No entanto, todos os apartamentos ficaram prontos praticamente ao mesmo tempo e faltou dinheiro para honrar as dívidas.
Hoje os clientes não conseguem pagar o novo valor acordado pela financeira e acabam perdendo o imóvel. Os bancos não podem ficar com os bens que acabam sendo leiloados por um preço muito abaixo do mercado. Os americanos, acostumados a depender do leasing, ficam de mãos atadas porque os bancos estão fechados para o sistema de crédito. Hoje os estrangeiros que têm dólares guardados conseguem adquirir imóveis em Miami por um valor, muitas vezes, abaixo do preço de custo.
Fabiana Pimenta que trabalha em parceria com a companhia italiana ProfessioneCasa, acaba de vender um imóvel que estava em Foreclosure no banco. Trata-se de um apartamento cujo m2 chegou a valer 6.000 dólares, mas foi negociado por 2.000. “Acredito que o meu cliente conseguirá, no mínimo, duplicar este valor daqui a três anos”, completa a jovem consultora.
O MERCADO DE LUXOEssa oscilação não interfere de maneira tão agressiva no mercado de alto luxo. Raymond Bolduc acaba de vender um imóvel em Miami Beach com cerca de 1.300m2 no mais belo estilo Grego Mediterrâneo. O comprador russo pagou à vista 10,6 milhões de dólares por esta mansão à beira mar.
Não deve ter sido difícil convencê-lo: “Como a SOL Sotheby’s Realty é especializada em mansões pé na areia ultraluxuosas, o nosso desafio é mostrar as nossas propriedades da maneira mais poderosa possível. Nós normalmente utilizamos iates para apresentar ao nosso cliente a sua provável nova casa. O impacto da chegada pelo mar é muito significante”, conclui Bolduc.
Para não dizer que não houve desvalorização neste segmento, a SOL Sotheby’s Realty negociou um outro imóvel na North Bay Road, com 9 quartos e quase 3.000m2 por 13 milhões de dólares, sendo que o valor inicial era de 19 milhões.
O próximo comprador pode ser um brasileiro: “Acabo de receber uma solicitação do escritório de Sotheby’s Realty São Paulo. Estou procurando casas de praia entre 1 e 4 milhões de dólares, para quatro executivos de alto escalão”, completa o profissional que está neste mercado há 10 anos.
AS VANTAGENSHercules Pimenta conhece bem os dois lados da moeda, já que aproveitou a alta da década de 90 e acompanhou de perto a recessão americana. Ele se prepara para apresentar um seminário em São Paulo sobre as oportunidades de investimento no sul da Flórida.
De acordo com o empresário, “se você estava esperando o momento certo para comprar uma casa de praia em Miami, esta pode ser uma boa oportunidade. Encontre um broker de confiança para orientá-lo na aquisição, especialmente se estiver pensando em comprar um apartamento. Adquirir um imóvel em um condomínio vazio pode acarretar grandes despesas. Caso esteja pensando em investir, não espere ter um bom retorno antes de três anos”.
No mais, é só uma questão de estratégia. A ensolarada Riviera da América do Norte está a sua espera.