27 de mar. de 2008

Os sucessores

Matéria publicada na Revista L'uomo Brasil Mar/Abr 2008.

O tempo não pára. Filhos de grandes nomes do mercado nacional, como Ivan Zurita, Rolim Amaro e José Talarico, compõem uma nova geração de empresários que está abrindo concorrência e reciclando idéias. A novidade é que a meta destes sucessores não é ocupar a cadeira do pai. Alguns talentos, lapidados desde o berço, assumiram o risco de abrir a própria empresa e sentir na pele a insegurança do marco zero. A nova geração dorme cedo, é apegada à família e se preocupa com sustentabilidade.
Por Viviane Lopes e Bianca Moretto

Num país em que cerca de 60% da força de trabalho não têm sequer o primeiro grau completo, Bruno e Thomaz Talarico, respectivamente 14 e 13 anos, ganham destaque. Eles estudam em uma escola britânica e já são fluentes em três idiomas.
“Posso dizer que o meu inglês é melhor do que o meu português”, diz Bruno que mora no Rio de Janeiro, mas tem planos de se mudar com o irmão para São Paulo com o intuito de “aproveitar melhor o mercado de trabalho”.
Bruno e Thomaz são filhos de José Talarico, CEO da Pepsico, empresa que hoje ocupa o segundo lugar na indústria de alimentos mundial, com 12 fábricas no Brasil e cerca de 40 mil funcionários.
“Criei os meus filhos com muito diálogo. Invisto em educação e cobro bom desempenho”, diz ele orgulhoso com o título de 2º Melhor Aluno que Thomaz recebeu na escola. “O mundo está tão globalizado que as empresas familiares estão acabando. Se um deles vier a ocupar o meu posto será por mérito. Terão que conquistar a vaga e não apenas me suceder”, conclui o pai.
Bruno e Thomaz são exemplos da nova geração que vem por aí. Por enquanto, eles passam dois períodos na escola e aproveitam o resto do tempo para jogar vídeo game e praticar esportes. No futuro, Thomaz diz não saber se está disposto de abrir mão da qualidade de vida para construir uma carreira.
“Admiro o meu pai por tudo o que ele proporciona para nós, mas não sei se quero ficar longe da minha família e passar por tudo o que ele passou para ter um bom cargo”. O futuro dirá.
Enquanto isso, Marcos Amaro tem 23 anos e é empresário desde os 18. Não se trata de um posto herdado, ou algo do gênero. Quando o seu pai, o comandante Rolim Amaro faleceu em 2001, Marcos fazia estágio na TAM em Marília, empresa que até hoje pertence à sua família. Na ocasião, com apenas 18 anos de idade, Marcos decidiu investir em outro segmento e fundou a Amaro Participações, uma holding de investimentos que atua em dois setores: o agronegócio e o luxo.
A fórmula, segundo ele, “é associar-se a pessoas boas, sempre melhores do que eu”. Um exemplo disso é Carlos Ferreirinha, “hoje, na minha avaliação, ele é o melhor consultor de luxo do Brasil e nos ajuda no desenvolvimento estratégico. Eu o uso, no bom sentido, para lapidar o meu trabalho”, explica Marcos.
Atualmente a WLUX apresenta em seu portfolio quatro marcas de referência no mercado: TAG Heuer, Alain Mikli, Philippe Starck e Mikli. A empresa tem como missão “ser a preferida entre as distribuidoras de produtos de luxo do Brasil”. Marcos se prepara para adquirir uma outra empresa para incrementar o Grupo, cujo nome ele faz segredo.
“Em 2008 quero gerir os meus negócios de maneira cada vez mais assertiva e gerar empregos. Somos uma empresa de investimentos e precisamos ter lucro, mas não vamos abrir mão do lado humano”. Entre os projetos está um programa de reflorestamento que dá retorno financeiro e ajuda na melhoria do meio ambiente.
“Ter estrutura familiar e dinheiro suficiente desde sempre me ajudou, mas se eu não tivesse iniciativa própria não teria dado certo. Acordo às 5:30 da manhã e trabalho cerca de 15 horas por dia, depois disso faço ginástica porque acho importante ter qualidade de vida” – diz ele.
O resto do tempo é para dividir com a família e com os amigos. O jovem empresário comparece apenas em eventos sociais ligados ao trabalho e, no mais, prefere um bom livro. Marcos é ousado e, apesar de ter nascido em berço de ouro, não tem medo de perder tudo e “ter que lavar pratos para sobreviver”.
“Para mim Deus vem em primeiro lugar, fiz terapia por um tempo, mas hoje só a religião basta para manter o equilíbrio e buscar forças. O meu pai passou por muitas dificuldades na vida, foi autodidata e construiu tudo sozinho com muita perseverança.” A herança deixada pelo comandante Rolim foi além do dinheiro. Marcos é um jovem com espírito empreendedor e entende que é preciso “ter coragem com prudência”.
Neste mesmo caminho segue Daniela Zurita, de 29 anos. Ela é a única filha do dono da maior indústria de alimentos do Brasil, a Nestlé. A sucessora de Ivan Zurita tinha tudo para ser uma menina mimada, mas não é. Ela conta que sempre gostou de brincar de vender, e aos sete anos já fazia cartões de natal para comercializar na porta da casa da avó. Daniela começou a sua carreira fazendo estágio na JWThompson do México, país onde concluiu a faculdade de comunicação com especialização em marketing. Quanto aos negócios do pai ela limita-se a organizar o leilão de gados Nelore e Simental, que acontece três vezes ao ano. Depois de morar no Chile, na Argentina, no Panamá, na Suíça e no México, falar cinco idiomas tornou-se um processo natural. Há dois anos ela está de volta ao Brasil e diz estar “acostumada a recomeçar”.
Com rosto de menina e olhar sempre solícito, Daniela consegue ser simples no meio do glamour que a rodeia, inclusive em grandes eventos como o Athina Onassis Horse Show, que ela organizou com sucesso no ano passado e deve repetir a dose em outubro este ano. A DZ Eventos, que ela fundou há menos de um ano, já conta com clientes como a Rede TV, Scala e TV Record.
“Costumo falar que a minha empresa é pequena e continuará pequena. Gosto de acompanhar de perto cada um dos meus clientes. Participo de todas as escolhas e cuido de cada detalhe para que tudo saia como planejado”.
Do pai ela herdou “transparência e honestidade”. Em meio a correria, Daniela ainda encontra tempo para manter em harmonia o namoro de nove meses com o chef de cozinha e apresentador Eduardo Guedes. Somem-se a isso, ginástica três vezes por semana e a leitura do livro “Marley e Eu” para cuidar bem do seu labrador. Haja disciplina.