Matéria publicada na Revista L'uomo Brasil Maio/Junho 2008.
Com tantos filmes vindos de Hollywood, sobra pouco espaço nas salas de cinema para as produções nacionais. Mas com o aumento da variedade de gênero e estilo de filmes brasileiros, a disputa está cada vez mais acirrada. Segundo o cineasta e diretor do site Filme B, Paulo César Almeida, “são lançados 80 filmes brasileiros por ano e parte desse sucesso deve-se a Lei do Audiovisual”. Desde que ela foi aplicada “já se revelaram cerca de 100 novos cineastas, com sucesso nacional e internacional”. Os números confirmam, os bons tempos do cinema brasileiro estão de volta.
Por Bianca Moretto e Viviane Lopes
Quem não viu Will Smith na festa de lançamento do seu filme no Rio de Janeiro, beijando o display com a foto em tamanho natural da atriz brasileira Alice Braga? A imagem supria a ausência da sua talentosa colega de cena no filme “Eu Sou a Lenda. Enquanto isso, ela estava atuando em outro longa-metragem no exterior. Will contou em diversas entrevistas que no momento em que viu Alice no longa brasileiro Cidade de Deus afirmou: ”Vou trabalhar com essa menina”, e não poupou elogios.
O Brasil é um celeiro de novos talentos nas mais diversas funções. Fernando Meirelles, Cao Hambúrguer, Walter Sales, Breno Silveira, Rodrigo Santoro, Fernanda Torres, Marília Pera, Selton Mello e muitos outros profissionais já receberam aplausos em grandes festivais no exterior. No entanto, ficamos longos anos com a produção escassa, o que gerou descrédito.
“Existe um preconceito do brasileiro com o próprio cinema brasileiro. Até reconquistar o público demora”. A frase é de Bruna Lombardi que já acumula 100 mil espectadores com o filme O Signo da Cidade. O longa-metragem foi lançado apenas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Agora a equipe se prepara para exibi-lo em outros estados do país.
Filha de um diretor e de uma atriz, Bruna afirma ser cinéfila desde menina. Para se dedicar ao cinema, a roteirista, produtora e atriz, optou por não renovar o seu sólido contrato com a Tv Globo. Radicada em Los Angeles há cerca de 20 anos, Bruna é reconhecida por seus diversos papéis em telenovelas e pelo programa em que entrevistou personalidades como Dustin Hoffman e Jean-Claude Van Damme.
Ela comemora a sua sintonia com as telonas justamente em um momento promissor para o cinema brasileiro. Uma iniciativa inédita garantiu salas lotadas em todas as sessões de lançamento do seu filme. Na ocasião do aniversário de São Paulo o ingresso para assistir O Signo da Cidade custava apenas R$ 1,00.
Ainda assim, “é impossível que um filme se pague só com a bilheteria. Não apenas o cinema brasileiro, mas nenhum cinema no mundo. Salvos Hollywood e Coréia, com os seus filmes muito específicos e muito populares que não viajam para fora do país, ninguém consegue se sustentar pelo mercado. Apenas 3% dos filmes lançados se pagam totalmente, seja ele nacional ou estrangeiro. Vale dizer que Hollywood abrange 80% da fatia do mercado mundial”, explica Paulo César Almeida, cineasta e diretor do site Filme B.
“Só se conseguiu viver do cinema nos anos 80 quando não existia tv a cabo, youtube e outras coisas. Hoje o mercado de cinema serve para os atores como uma vitrine, e para os diretores é uma busca de sucesso e realização pessoal. Se eu estivesse nos EUA já estaria aposentado e rico morando em Beverly Hills. Hoje estou em busca de fazer um projeto que me cative, que eu acredite que vai interessar às pessoas. Um projeto que se justifique. Que tenha importância cultural. Se não for assim prefiro ficar quieto”, diz o diretor que foi o primeiro a filmar com HD no Brasil e acumula o saldo de 10 milhões de espectadores.
Para o diretor do premiado filme Dois Filhos de Francisco, Breno Silveira, “este é um verdadeiro momento de retomada, uma retomada de público, retomada de uma boa fase. Foram 15 anos em que o cinema praticamente ficou longe do público, e não é justo. O nosso público precisa se ver retratado, ter as suas histórias contadas. A gente tem uma diversidade cultural muito grande, eu acredito que venha desta nossa cultura miscigenada, isso produz uma riqueza. Às vezes até fico comparando com o cinema argentino que é bom, vive um bom momento, e acho que o nosso é mais rico, temos mais opções, roteiros diferentes, boas histórias”.
Como sócio da Conspiração Filmes, Breno afirma que “produzir filmes ainda é muito difícil no Brasil, são muitos caminhos, trâmites, é tudo subsidiado. A parceria internacional é um ótimo caminho, mas a gente tem outro problema, o idioma. O português é uma língua linda, mas é limitada. É pouco falado no mundo e muitos povos não estão acostumados a ver filmes com legenda. Até me falaram quando Dois Filhos de Francisco foi indicado como filme candidato ao Oscar, que se eu tivesse filmado em espanhol teria conseguido. Com tudo que já conquistamos ainda temos apenas 10% de bilheteria. Na França era assim e hoje eles conseguiram chegar a 40%. Acho que as parcerias com empresas e TVs podem ajudar, ainda são poucas as parcerias (a Globo filmes é parceira em 90% das produções nacionais). Ainda é um esforço viver de cinema no Brasil. Metade do meu dinheiro vem da publicidade. Você leva praticamente 4 anos para fazer um filme e nesse tempo precisa viver de outra coisa. Eu usei a publicidade para bancar o meu sonho de cinema”, completa Breno que estudou fotografia de cinema na França.
Breno viu o seu filme Dois Filhos de Francisco ser duramente criticado na primeira semana de exibição.
“Foi um filme muito difícil. Houve muito preconceito no começo, ninguém acreditava porque era uma história de música sertaneja. Eu cheguei a pensar que tinha errado, mas eu acreditava na história. Foi difícil até arrumar parceiros, patrocinadores, quando viam o projeto todo mundo falava, só vai atrair os fãs e quando saiu pensei, nem os fãs tão vendo, nem quem não é fã. Todo mundo recusou e depois foi aquele sucesso, foi uma surpresa. Agora é mais difícil fazer outro filme, vem a cobrança, mas eu sei que Dois Filhos foi um caso único. Eu gosto de falar de relacionamentos, de laços de família. Eu não sabia e descobri com Dois Filhos, o meu trabalho é emocionar, eu faço filme para emocionar as pessoas”. O seu próximo filme, Era uma Vez, estréia dia 25 de julho.
Breno Silveira e os protagonistas de Era Uma Vez
DESAFIOS
Mesmo vivendo uma boa fase, o cinema ainda oferece grandes desafios e concorrência para os profissionais que querem viver desta arte. A jovem atriz de 19 anos, Sophia Reis, começou no filme Meu Tio matou um cara e conta que “o primeiro papel veio naturalmente”.
Paula Lavigne, amiga do seu pai Nando Reis, a avisou sobre os testes e Sophia foi fazer. Ela foi aprovada e fez a personagem Isa. Meu tio matou um cara é uma comédia policial de 2004, com a direção de Jorge Furtado, reconhecido pelo seu documentário muito premiado "Ilha das Flores".
Recentemente ela filmou como a personagem Bia no curta-metragem Vida e Morte de Sophie Alice, com direção de Vitor Leite e participação especial de Antônio Fagundes.
Sophia explica que "viver de cinema não é nada fácil, não são muitos os papéis, há muitas pessoas concorrendo. É uma provação constante, muitos testes, às vezes até 4 por semana. Essa necessidade de se provar constantemente é cansativa e estressante. Mais uma dificuldade para quem está começando”.
Fora o curta-metragem, Sophia começará em agosto a fazer faculdade de cinema com a vontade de conhecer tudo, de direção à produção. Enquanto não surge um próximo desafio no cinema, a atriz apaixonada por cinema é VJ na MTV.
ANTOPROFAGIA
O cinema cresce, a oferta de profissionais qualificados aumenta, e salas de exibição são aprimoradas. A inclusão de salas multiplex trouxe qualidade de som e imagem, um novo conceito de cinema. E por incrível que pareça, o número de salas não aumentou muito nos últimos cinco anos. Quando uma grande sala de cinema é inaugurada, automaticamente as pequenas que estão à sua volta fecham. Hoje são 2.150 salas espalhadas por todo o país, atendendo às necessidades de um mercado que movimenta R$ 100 milhões por ano.
Paulo César Almeida conclui dizendo que “trata-se de um processo antropofágico. O vídeo comeu o cinema, a pirataria comeu o homevideo e a televisão rouba um pouco de tudo isso. As vídeo locadoras estão falindo e, com a chegada do digital, muda tudo outra vez. Nos próximos anos tudo vai mudar. Eu sempre acho que é pra melhor, eu sou otimista”.
Só uma coisa não vai mudar, temos motivos de sobra para prestigiar o trabalho dos nossos cineastas.
OS PREMIADOS
Em 2002 foi fundada a Academia Brasileira de Cinema, com o objetivo de promover, preservar e divulgar o cinema nacional. A criação de um prêmio para celebrar a produção anual de filmes, marcou o início de um projeto que aproximou mais de 300 sócios, entre realizadores, distribuidores, produtores, exibidores, técnicos, atores e outros profissionais do cinema e audiovisual.
Na entrega do Grande Prêmio Brasileiro de Cinema deste ano, que aconteceu no dia 15 de abril, no Rio de Janeiro, o filme Tropa de Elite de José Padilha, foi o que mais ganhou estatuetas. Nove no total: melhor direção, melhor ator, melhor ator coadjuvante, melhor direção de fotografia, melhor maquiagem, melhor montagem ficção, melhor som e melhor efeito especial. Além de ser eleito pelo voto popular como o melhor longa-metragem nacional.
Tropa de Elite levou mais de 3 milhões de espectadores ao cinema, repetindo o sucesso de Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, em 2002. O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias, de Cao Hambúrguer, subiu ao palco três vezes, uma delas para receber o prêmio de melhor longa metragem de ficção de 2007.
O Cheiro do Ralo, que conta com a atuação de Selton Mello e direção de Heitor Dhalia, ganhou destaque com o prêmio de melhor roteiro original pela adaptação do livro O Cheiro do Ralo, de Lourenço Mutarelli. Na festa do cinema brasileiro, houve espaço até para melhor filme de celular que teve But como o vencedor.
Para a entrega do próximo ano, o filme Meu Nome Não é Johnny será um forte candidato. O longa-metragem foi rodado em 55 locações diferentes, contou com 1.500 figurantes e teve orçamento geral de R$ 6 milhões.
"Na maior parte do tempo, não passávamos mais de um dia em uma única locação. O João nunca fica no mesmo lugar e só pára quando vai preso. Esta movimentação no cinema costuma ser sempre caríssima. Mas conseguimos aproveitar a verba da melhor maneira possível. Tenho muito orgulho da equação econômica do filme", declara a produtora Mariza Leão no site da Academia de Cinema.
Mariza conta também que “as filmagens em Veneza tiveram até um episódio engraçado. Depois de um dia inteiro de filmagem, com todas as dificuldades de logística que a cidade tem, o câmera disse que teriam que fazer tudo de novo porque tinha entrado um pêlo na lente”. Tanto sufoco valeu a pena. Lançado em 2008 o filme Meu Nome não é Johnny, de Mauro Lima, já registra mais de 2 milhões de espectadores.
Um comentário:
Baw ah, kasagad sa imo maghimo blog. Nalingaw gd ko basa.
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