30 de mai. de 2007

De Vento em Popa.

Matéria publicada na Revista L'UOMO Maio/Junho-2007.

O poeta português Fernando Pessoa já dizia: “Navegar é preciso”. Estrada ruim, falta de segurança em cidades turísticas, despesas hoteleiras, trânsito e outros inconvenientes estão estimulando os brasileiros a migrar para um mercado que vai de vento em popa, o segmento náutico. Se o seu sonho é ter um barco ladeando o seu carro na garagem, acredite, a hora é agora.
Por Bianca Moretto e Viviane Lopes.

O mercado náutico brasileiro é dividido em dois, o de veleiros e o de lanchas a motor. O mercado de lanchas movimenta algo em torno de 90% do total, um dos motivos segundo o diretor de marketing da Regatta, Cacau Peters, seria porque “o veleiro exige mais conhecimento técnico para manejar”. Que o diga o chef francês e empresário bem-sucedido Olivier Anquier. Ele que atualmente apresenta um quadro de culinária no programa Domingo Espetacular da Tv Record, confessou à LUOMO a sua paixão por barcos e a dificuldade para encontrar marinas bem estruturadas no país: "Comecei a velejar na Europa com seis anos de idade, sou um apaixonado por esta atividade. Mas para quem está começando vale lembrar que os recursos para a prática do esporte no país ainda são bastante limitados". De qualquer forma, esse mercado como um todo cresce em média 15% ao ano e desperta um interesse cada vez maior. De acordo com Cacau, o mercado poderia inclusive crescer mais do que tem crescido não fosse o câmbio. Porque se por um lado o câmbio barateia o custo dos barcos, já que os motores são importados e correspondem a 50% do valor dos menores, por outro dificulta a exportação dos estaleiros.
No entanto, este não é motivo para impedir os estaleiros de crescerem e se aperfeiçoarem. Nos últimos anos a qualidade da produção brasileira dos estaleiros aumentou muito em qualidade e quantidade, tudo isso sem o menor incentivo governamental ou de qualquer outra espécie. Pelo contrário, o diretor de marketing disse que no mercado costuma-se dizer que o “Brasil está de costas para o mar”, já que ainda não percebeu o potencial de crescimento que um país com mais de 8 mil quilômetros de litoral possui nesse setor.

DIAS CONTADOS
Este desprezo parece estar com os dias contados. A possibilidade de financiamento bancário com até três anos para pagar (a Aymoré Financiamentos, do grupo ABN-Amro, por exemplo, cobra taxas de 2,3% ao mês para barcos e 2,6% para motores e equipamentos) faz com que novos adeptos invistam no setor.
Porém, quando marinheiros de primeira viagem decidem se aventurar, uma boa alternativa é investir em barcos seminovos para evitar prejuízos. A economia na compra de uma embarcação usada em relação à nova pode ser de até 35%. Um barco de 24 pés, por exemplo, que custaria R$ 85 mil, pode ser encontrado por R$ 25 mil a menos se tiver dois anos de uso. Quem ainda não é um expert no assunto pode e deve recorrer a um mecânico de confiança que irá perceber possíveis problemas não aparentes. Mas se o seu desejo é ter o próprio brinquedo guardado na garagem, aproveite! Nunca foi tão fácil ter um barco.
Na hora de escolher são inúmeros os modelos e a partir de R$ 15.000,00, o sonho de ter uma lancha pode ser realizado. Nesse caso seria um barco pequeno de 25Hp, 4 metros, com impostos inclusos e apenas uma pequena taxa a ser paga no registro da Marinha. Esse barco inclusive não necessita nem de garagem náutica, pois pode ser levado para outro lugar numa carreta. No caso de barcos maiores que necessitem ficar numa garagem, o proprietário vai gastar em média R$ 200,00 por mês. Para quem quer passear com a família sem gastar muito na compra o Flash 165 pose ser a solução. O modelo pronto para navegar custa menos de R$ 17 mil e leva até quatro pessoas. Mas se você prefere levar os amigos para esquiar em lagos, represas ou enseadas dê uma olhada na Ventura 195 que custa cerca de R$ 48 mil e pode ser rebocada por uma picape média. Para ter conforto em alto mar a Citamarra 270 é uma boa alternativa. O investimento neste caso pode chegar a R$ 120 mil dependendo do motor. De acordo com a revista Náutica, em que você pode inclusive anunciar o seu barco gratuitamente, o preço de um veleiro RO 330 gira em torno dos R$ 250 mil e é "um bom investimento para quem busca um veleiro de porte médio para cruzeiros costeiros". Grandes estaleiros como Intermarine, Real Class e Spirit Ferretti também oferecem variedade de modelos.
Já Olivier não se contentou em comprar um barco comum de fibra de vidro: "Fiz o barco do meu jeito e dentro das minhas condições financeiras. Encontrei um casco de madeira na marina Marimbas no Rio de Janeiro por R$ 500,00. Depois foram necessários quase dose meses de trabalho em São Paulo no estaleiro do Ricardo Lopes para desenvolver o interior da lancha. Acompanhei cada passo", diz ele. Neste caso o chef nos explica que o mais caro foi o motor 2 tempos que custou R$ 22.000. No total, incluindo peças e a transformação interior, o barco exclusivo de 16 pés saiu por R$ 38.500. Para pilotar o seu "Saramayá" Olivier precisou ter uma habilitação autorizada pela Marinha. Para cada área do oceano, há uma classificação diferente, tanto para vela quanto para motor. A inscrição é feita na Capitania dos Portos ou através de fax, mediante o pagamento da taxa de R$ 40. Vale lembrar que conduzir uma embarcação ou contratar um tripulante sem habilitação é uma infração e o condutor pode ser multado com valores de variam de R$ 40 a R$ 3.200. Empresas especializadas no mercado náutico oferecem esse tipo de curso.

ALUGUEL
Quem não sabe pilotar pode alugar uma embarcação e contemplar as belezas do litoral brasileiro. Na Bahia, por exemplo, as embarcações mais alugadas são as escunas e lanchas e variam de preço de acordo o número de pessoas. Uma opção para quem quer apreciar os confortos de um barco de alto luxo, sem precisar investir na compra, é passar férias num deles. A Regatta oferece o serviço de Yacht Charter há quase um ano. Essa nova modalidade de férias pode ser corporativa ou particular, e diferente de um passeio turístico de uma noite ou um fim de semana, o Charter é o aluguel de uma casa de férias.
Essa viagem dos sonhos é totalmente personalizada. O cliente reserva o escolhe o destino que pode ser o convidativo sol do Caribe ou as paradisíacas ilhas do Pacífico Sul. Pode inclusive escolher um lugar mais próximo, mas nem por isso menos exuberante, como Ilha Grande, Paraty ou ainda Punta Del Este. Depois de traçar o roteiro, escolhe o que vai comer e beber todos os dias, podendo incluir no cardápio o vinho preferido por exemplo. O passeio conta com tripulação profissional como chef, hostess, capitão, etc. Dentre os confortos que o iate ou veleiro, conforme o espírito da turma, poderá desfrutar, estão banheiras jacuzzi, ambientes agradáveis e luxuosos, brinquedos aquáticos diversos como jet-ski, caiaque, equipamento de mergulho e outros. Uma viagem de uma semana para o Caribe, pode custar algo em torno de US$ 3.500 num grupo de oito pessoas. Os destinos mais procurados pelos brasileiros são Europa, Caribe, Alaska e Pacífico Sul. Mas também existem pacotes os festivais de Cannes ou eventos em Mônaco, onde o viajante não terá o desconforto de desfazer as malas quando viajar de uma ilha para outra.

NEGÓCIOS EM ALTO MAR
Outra possibilidade é o Office Boat. Empresários brasileiros descobriram que fechar negócios em alto mar pode ser vantajoso. Com sistema SSB, rádios de ondas curtas que permite e-mails de longo alcance e telefone por satélite o sistema de comunicação está garantido. Segundo publicado na edição de março deste ano da revista Joyce Pascowitch “reza a lenda que Naji Nahas conheceu Marco Tronchetti Provera, o chefão da Telecom Itália, no Mediterrâneo. O barco em que Naji estava encostou ao lado do de Tronchetti Provera. Naji foi convidado para um jantar no iate vizinho e saiu de lá como representante do empresário italiano no Brasil para intermediar o litígio com Daniel Dantas”. O mar parece ter se transformado em uma ambiente propício para criar bons relacionamentos.

RIO BOAT SHOW
Segundo a Acobar (Associação Brasileira dos Construtores de Barco), a frota brasileira é hoje estimada em 53 mil barcos. Para se ter uma idéia, no Rio Boat Show deste ano, 120 expositores se espalharam por 40 mil m2 apresentando lançamentos nacionais e internacionais de lanchas, veleiros, motores e acessórios náuticos. O destaque da feira foi o lançamento do projeto do Estaleiro Riostar, do melhor designer do setor, o brasileiro Fernando Almeida. O barco RS74 Open mescla o conforto de um motor yacht com o desempenho de um open boat.
Cerca de 53 mil visitantes passaram por lá gerando negócios da ordem de US$ 45 milhões. Indiretamente veículos de comunicação também são beneficiados com tal demanda. A revista Náutica, por exemplo, cresceu cerca de 36% no último ano, segundo nos informou a gerente de circulação Heloísa Siqueira. No cinema não é diferente, prova disso é o documentário lançado no dia 27 de abril deste ano - O Mundo em Duas Voltas, que mostra a saga da família Schurmann retratada em película por um dos filhos do casal. Se você ainda não está pronto para uma volta ao mundo, mas quer se entrosar melhor com o segmento náutico, saiba que uma competição promete agitar as águas da represa de Guarapiranga em São Paulo. O empresário Lebos Ribeiro Chaguri em parceria com a Fepen (Federação Paulista de Esportes Náuticos) estão organizando uma competição que tem como ponto de partida o Clube de Campo Castelo. Entre as modalidades destaque para Fórmula Indi, Craicker e prova de arrancada de jet ski.
Para mais informações envie um e-mail para acemusicrecords@hotmail.com.

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